Criar utensílios para transportar, guardar e filtrar água usando matérias-primas e conhecimento locais
A Residência Pote propôs um olhar sobre a condição insular e climática de Cabo Verde, bem como a sua relação singular com a terra e a água. Mais precisamente, incidiu sobre a cultura material que resulta dessa relação, tão ambígua quanto vital para a permanência nas ilhas.
Partimos da memória e da experiência do lugar: o que se aprendeu com a insularidade e a escassez da água? O que se fez e faz para armazenar, transportar e consumir água? Que significâncias particulares emergiram desta experiência? E o que podemos aprender com a condição cabo-verdiana acerca da resiliência, da criatividade e da inteligência material? Fazemos estas perguntas para projectar o presente e imaginar o futuro, com particular atenção às condições ecológicas, sociais e económicas.
Posicionando o design e as artes como agentes responsáveis na criação de uma cultura material mais consciente, questionámos a industrialização e privatização do acesso à água, que torna o consumo de um bem essencial num desastre ecológico em curso. Ensaiámos respostas para diferentes contextos contemporâneos e propusemos formas para transportar, guardar, filtrar e beber água. Tudo isto foi realizado através da colaboração e da partilha de conhecimento e do saber-fazer, utilizando somente matérias-primas autóctones.
Nas ilhas de São Vicente, Santo Antão e Santiago, mapeámos e georeferenciámos os barreiros, analisámos as argilas recolhidas e, além dos vários tipos de recipientes desenvolvidos, elaborámos formas de auto-produção de filtros com argilas e outros elementos como carvão activado, areias de basalto ou pozolana. A investigação, mapeamento e propostas de produto foram apresentadas numa exposição durante a URDI 21, um evento nacional dedicado ao artesanato e design em Cabo Verde).